Gean Barros tenta manter influência no Dsei Médio Rio Purus após perder eleições
Mesmo após a derrota nas eleições municipais com a indicação de Mabi Canizo para prefeito de Lábrea, o atual gestor, Gean Barros, que concluirá seu quarto mandato em dezembro de 2024, parece determinado a manter o controle sobre a cidade e os órgãos públicos locais. Em seus 20 anos de gestão, Gean consolidou uma imagem de político controlador, governando o município com “mão de ferro” e deixando marcas de atraso, especialmente nas áreas de saúde e educação.
Lábrea, localizada na região estratégica do Rio Purus e com uma população de cerca de 47 mil habitantes, enfrenta dificuldades significativas que evidenciam o impacto de uma gestão concentrada em interesses políticos. Apesar de ser um polo regional, os índices de desenvolvimento, como o IDEB (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), estão abaixo da média, revelando o impacto de uma administração que, segundo críticos, priorizou o controle político em detrimento de políticas públicas eficazes.
Além disso, Lábrea possui dimensões continentais, com uma área de 68.263 km², e, apesar de sua ligação pela Transamazônica, é um dos únicos municípios do sul do Amazonas que não conta com um distrito administrativo. Isso é atribuído à falta de interesse do prefeito em desenvolver a cidade de forma estruturada e legal. A situação na saúde é igualmente alarmante: a crise se agravou quando Gean judicializou uma ação que devolveu a administração do Hospital Regional de Lábrea ao governo estadual, limitando ainda mais o acesso à saúde para a população local, que agora sofre com a falta de assistência na atenção básica e na média e alta complexidade.
Agora, com o fim de seu mandato se aproximando, Gean tenta ampliar sua influência sobre o Distrito Sanitário Especial Indígena (Dsei) Médio Rio Purus, uma instituição federal de grande importância para os povos indígenas. Desde a exoneração de seu aliado, o ex-coordenador Cícero Santana, que participou da organização de contratos questionáveis – como o aluguel da nova sede do Dsei –, Gean busca colocar outro aliado no comando do órgão. Para ele, assumir a gestão do Dsei significa uma oportunidade para garantir cargos a seus apoiadores e manter contratos vantajosos, incluindo a locação de imóveis superfaturados.
Um exemplo disso é Zé Bajaga, uma liderança indígena influente e ex-candidato a vereador por algumas vezes ao lado de Gean Barros, que, apesar de ter pouco poucos votos entre os povos indígenas, mantém uma posição importante ao lado do prefeito, influenciando lideranças em troca de favores, como é o caso do atual cunhado que é Secretário de Fazendo do Município. Bajaga conta atualmente com oito familiares em cargos de chefia e gerência administrativa no Dsei Médio Rio Purus, muitos atuando como referência técnica, incluindo irmãos e cunhados. Sua motivação para apoiar a indicação de Gean Barros ao Dsei é justamente garantir a continuidade de sua família em posições estratégicas.
A tentativa de controlar o Dsei Médio Rio Purus revela a ausência de foco nas necessidades das populações indígenas e locais, que dependem dos serviços de saúde providos pelo órgão. Lideranças indígenas e moradores temem que o Dsei, sob influência política, continue priorizando interesses pessoais e comprometa a assistência de saúde de que tanto necessitam.
Além disso, o prefeito de Lábrea, Gean Campos de Barros, foi responsabilizado pela exploração de 21 pessoas em condições análogas à escravidão na produção de castanha-do-pará no município, conforme consta em registros oficiais. Entre os resgatados estavam dois adolescentes e quatro crianças, incluindo meninos de 11 anos que carregavam pesados sacos de castanhas em trilhas na mata e utilizavam facões longos, conhecidos como terçados, para abrir os ouriços – os frutos da castanha. As vítimas incluíam indígenas e ribeirinhos da Reserva Extrativista do Médio Purus, demonstrando o impacto da situação sobre as comunidades tradicionais da região.
Esse resgate ocorreu em um contexto marcado pela criação de uma reserva extrativista no município de Lábrea, impulsionada pela articulação das comunidades ribeirinhas. O episódio, que revela uma violação grave de direitos humanos e o uso de trabalho infantil, lançou luz sobre práticas irregulares e perigosas, envolvendo pessoas em situações de extrema vulnerabilidade em atividades exaustivas e sem segurança, em total desrespeito às leis trabalhistas e aos direitos básicos.
Esse histórico de violações torna ainda mais preocupante a tentativa de Gean Barros de expandir seu controle político sobre o Dsei Médio Rio Purus. Para as lideranças indígenas e locais, o temor é que o interesse do prefeito em um órgão voltado à saúde indígena esteja mais relacionado à manutenção de sua rede de aliados e à ocupação de cargos estratégicos, do que ao compromisso com as necessidades das comunidades.
Reportagem: Leonardo Dias (Portal Favorito AM)